A crescente preocupação com a sustentabilidade e a saúde do solo tem levado muitos produtores a buscarem alternativas aos métodos convencionais de controle de pragas e doenças no campo. Nesse cenário, os bioinsumos surgiram como uma solução promissora, oferecendo benefícios que vão além de uma simples técnica de manejo nas lavouras.
É importante ressaltar que a busca permanente por novas ferramentas de trabalho no agronegócio não vislumbra apenas alavancar a competitividade do setor. A resistência das pragas, por exemplo, exige do agricultor muita resiliência e, sobretudo, que o mundo da pesquisa científica se aprimore rapidamente, pois, cada dia que passa, os métodos tradicionais e já estabelecidos no mercado se tornam menos eficazes diante dos desafios impostos pelas leis naturais.
Nesse cenário, os bioinsumos vêm trazendo uma nova perspectiva, tanto quando falamos do uso de macro-organismos (insetos) quanto micro-organismos (fungos, virus e bactérias), mas, claramente, este campo ainda depende muito de avanços de pesquisa para que a produção atinja uma larga escala.
Sem dúvida alguma, os fabricantes de bioinsumos desempenham um papel crucial, já que a produção em grandes quantidades requer desenvolvimento tecnológico significativo para viabilizar a criação desses organismos em laboratório. A produção on farm também vem se destacando como uma alternativa relevante e eficaz no Brasil, transformando o agricultor em o “dono de sua própria fábrica”, gerando autonomia, eficiência e economia de recursos financeiros.
Um exemplo claro desse avanço é a viabilidade econômica da produção de Trichogramma pretiosum, um importante agente de controle biológico de pragas da ordem Lepidoptera. Um estudo publicado pela revista Pecege, mostrou que a produção em larga escala desse parasitoide é altamente rentável, com excelente margem líquida para a indústria, inclusive.
Outro estudo, realizado pela INRA Science & Impact, mostrou que a aplicação desse agente resultou na parasitização de 79,2% das massas de ovos de lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). Além disso, a produtividade do milho aumentou em 701 kg/ha nas parcelas tratadas com parasitoides, o que representou um aumento de 19,4% na produtividade e um ganho econômico de aproximadamente US$ 96,5 por hectare. Esses resultados reforçam a importância do controle biológico como alternativa viável e sustentável aos métodos convencionais.
O sucesso dos bioinsumos, no entanto, depende de sua administração correta. A frequência e a técnica de aplicação variam de acordo com a população de pragas e o entendimento dos produtores sobre o manejo adequado. Capacitar os agricultores é essencial. Nesse cenário, associações de produtores têm um papel fundamental, compartilhando experiências sobre o uso desses produtos e boas práticas já testadas com sucesso por outros agricultores.
Ainda falando sobre a correta utilização dos bioinsumos, a mobilidade limitada de alguns micro-organismos destaca a importância de uma aplicação precisa. Quando não são usados diretamente onde as pragas exatamente se encontram, a taxa de insucesso pode ser elevada, não por falha do produto, mas por erro de aplicação.
O uso de drones também tem se mostrado eficiente, especialmente para pequenos agricultores. Estudo conduzido por mim na Embrapa, sobre o Controle Biológico de Pragas do Milho, destacou a eficácia dos drones na liberação de Trichogramma em grandes áreas, facilitando o controle de Spodoptera frugiperda. Enquanto pulverizadores tradicionais podem custar até quase um milhão de reais, drones oferecem um alcance maior a um custo reduzido, tornando-se uma opção acessível.
A produção de macro-organismos, por outro lado, enfrenta desafios significativos. Ao contrário dos micro-organismos, que podem ser armazenados por longos períodos, os macro-organismos exigem produção contínua e em maior escala. Isso levanta questões sobre o acesso dos pequenos produtores a esses recursos.
A crescente pressão contra o uso de agrotóxicos, impulsionada por consumidores e ambientalistas, reflete a demanda por práticas agrícolas mais sustentáveis. No entanto, o número de bioinsumos disponíveis ainda é limitado, com muitas marcas comerciais concentradas em poucos princípios ativos. A diversidade de bioinsumos precisa ser ampliada, aproveitando a biodiversidade brasileira.
A falta de conhecimento e de políticas públicas de incentivo ainda são obstáculos, mas, com o apoio de associações e iniciativas educacionais, podemos obter grandes evoluções, em um curto espaço de tempo. Além disso, crises econômicas e mudanças climáticas pressionam o setor agrícola. O suporte contínuo aos agricultores é essencial para a transição para práticas mais sustentáveis. Aqueles que as adotaram já observam melhorias na saúde do solo e na biodiversidade, resultando em sistemas agrícolas mais resilientes.
Portanto, para garantir a sustentabilidade a longo prazo, é necessário um planejamento cuidadoso, gestão eficaz e a implementação de tecnologias adequadas. Os fabricantes de bioinsumos, sejam eles as indústrias ou os próprios agricultores, com sua capacidade de inovação e produção, desempenham um papel central nesse processo. Com uma abordagem integrada, que combine bioinsumos, controle biológico e tecnologia, a agricultura realmente pode ganhar contornos mais sustentáveis.
*Ivan Cruz é pesquisador na Embrapa Milho e Sorgo em Sete Lagoas, MG.
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