Cannaceae
Cannaceae | |||||||||||||
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Classificação científica | |||||||||||||
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Cannaceae (ou canáceas) é uma família de plantas angiospermas monocotiledôneas da ordem Zingiberales que inclui 19 espécies distribuídas em um único gênero, Canna L.. Esta ordem, juntamente com Poales, Arecales, Commelinales, Zingiberales e Dasypogonaceae formam o clado das Comelinídeas.
As espécies desse gênero são conhecidas popularmente como cana, embora esse termo seja também muito utilizado para se referir a espécies distantes, como as gramíneas cana-de-açúcar e cana-do-reino.[1]
Descrição
[editar | editar código-fonte]Canas são especialmente conhecidas por suas folhas largas. Essas folhas são espiraladas: crescem formando uma espécie de rolo e, quando estão grandes, separam-se do rolo. Usualmente, as folhas são verde-escuro, mas podem ser também marrons, vinho ou mesmo variegadas.
As flores das canas são normalmente grandes e vistosas. Entretanto, suas pétalas e sépalas são minúsculas: o que aparenta ser pétalas são, na verdade, estaminódios bem desenvolvidos. Geralmente possuem cinco estaminódios, podendo possuir menos. No caso de haver cinco, geralmente três estaminódios são maiores e parecidos com pétalas, um é mediano e possui estigmas e o último é fino e possui uma antera fértil; consequentemente, uma vez que possuem estigmas e anteras, são flores hermafroditas. A parte dos estames, as flores são trímeras: possuem três pétalas e três sépalas reais.[2] As cores das flores variam entre o amarelo e o vermelho, passando pelo laranja. Crescem em inflorescências. Por sua aparência vistosa e por suas cores vibrantes, essas flores são especialmente eficientes para atrair polinizadores, como abelhas, borboletas, beija-flores e morcegos. Algumas espécies, por possuírem o gineceu e o androceu suficientemente próximos, são capazes de se polinizarem sozinhas.
A altura das canas, em estado selvagem, varia de dois a três metros, em média. Espécies cultivadas foram selecionadas para possuírem altura menor.
As raízes das canas possuem rizomas. Seus rizomas possuem as maiores part��culas de amido produzidas por plantas. As canas também brotam dos rizomas. Embora os rizomas sejam normalmente perenes, é comum que sejam cultivados como plantas anuais em regiões de clima mais temperado ou frio.[3]
As canas se desenvolvem melhor em climas muito ensolarados, com quantidade moderada de água. O solo pode ser tanto rico quanto arenoso. São, porém, relativamente resistentes ao frio, embora seus rizomas possam apodrecer se expostos em temperaturas congelantes.[3]
As plantas dessa família se diferenciam das outras famílias irmãs da ordem Zingiberales pela presença de estames monotecados associados com 1 a 4 estaminódios e folhas dísticas.[4]
Reprodução
[editar | editar código-fonte]Canas podem se reproduzir tanto sexuadamente quanto assexuadamente.
Reprodução sexual
[editar | editar código-fonte]Em algumas espécies pode ocorrer autofecundação. As flores fertilizadas produzem frutos que, quando maduros, possuem uma casca áspera e contêm pequenas sementes. Se a polinização foi feita com pólen de outro espécime, as sementes gerarão indivíduos com código genético resultante do cruzamento.
Algumas espécies, como as do grupo italiano e as triplóides, são inférteis; híbridos são sempre inférteis.
Canna é o único gênero da classe Liliopsida no qual ocorre dormência nas sementes - isto é, sementes viáveis que não germinam mesmo tendo condições favoráveis. Isso é possível devido à cobertura dura e impenetrável das mesmas.
Reprodução assexual
[editar | editar código-fonte]Essas plantas também podem se reproduzir por brotamento, a partir dos seus rizomas. Os novos indivíduos serão idênticos ao pai, uma vez que não houve troca de genes. Os rizomas só brotam se possuírem pontos nodais - conhecidos popularmente como "olhinhos".
Em laboratório, também é possível reproduzir espécies de plantas por micro-propagação. Várias espécies do gênero Canna são produzidas em massa dessa maneira - especificamente, a "série Island". Entretanto, canas são consideradas, geralmente, difíceis de serem produzidas por micro-propagação.
Relações Filogenéticas
[editar | editar código-fonte]O APG IV (2016) apresenta a família Cannaceae dentro da ordem Zingiberales, com mais outras oito famílias (Strelitziaceae, Lowiaceae, Heliconiaceae, Musaceae, Marantaceae, Costaceae, Zingiberaceae), com monofilia sustentada por caracteres morfológicos e DNA[4] .[6]
Segundo Simpson (2010),[4] as apomorfias do grupo são: ovário ínfero, células de sílica, vernação supervoluta (dobramento da folha jovem) e folhas com venação peni-paralela, com câmaras de ar. A família Cannaceae é mais próxima da família Marantaceae no cladograma apresentado no livro, demonstrando as relações filogenéticas do grupo.
Distribuição
[editar | editar código-fonte]As espécies do gênero são nativas das regiões tropicais e subtropicais da América, que vão do sudeste dos Estados Unidos até o nordeste da Argentina. Entretanto, apesar de as canáceas serem oriundas do Novo Mundo, foram levadas para serem cultivadas em praticamente todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo, gerando várias espécies especialmente climatizadas para as mais variadas regiões. Canas podem ser cultivadas até mesmo nas regiões árticas, desde que protegidas dos ventos mais fortes e da neve.[7]
No Brasil
[editar | editar código-fonte]Ocorre em todos os domínios do Brasil (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal). Quatro espécies são ocorrentes, e uma delas é endêmica .[8]
Cultivo no Velho Mundo
[editar | editar código-fonte]Essas plantas também são muito apreciadas na Europa. Segundo Charles de l'Écluse, a primeira espécie a ser introduzida no continente europeu foi a C. indica. Essa canácea foi importada das Américas através das Índias Orientais (Sudeste Asiático e ilhas entre a Ásia e a Austrália).[9]
Mais tarde, em 1651, Pison menciona outra espécie, conhecida popularmente como "Albara" ou "Pacivira", que cresceria "em lugares escuros e úmidos, entre os trópicos".[10] Essa espécie era a C. angustifolia L., (posteriormente reclassificada como C. glauca L.).[11]
Ao final, as canáceas tornaram-se plantas ornamentais muito populares na Europa nos tempos vitorianos, sendo largamente cultivadas em vários países do hemisfério norte, como França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Hungria, Índia e Estados Unidos.[7][12]
Declínio e ressurgimento
[editar | editar código-fonte]Com o advento das Primeira e Segunda Guerras Mundiais, o cultivo das canáceas nos países do norte entrou em declínio. Com o crescimento econômico dos países durante a segunda metade do século XX, as canáceas voltaram a ser bastante populares.[3]
Classificação
[editar | editar código-fonte]Existem cerca de vinte espécies de canas, e um número bem maior de cultivares.
Espécies
[editar | editar código-fonte]Até a década de 70, as diversas propostas taxonômicas do gênero Canna dividiam o gênero entre cinqüenta a cem espécies selvagens. Nas últimas décadas do século XX, porém, dois taxonomistas - o neerlandês Paul Maas e o japonês Nobuyuki Tanaka - propuseram novas taxonomias mais simples, com cerca de vinte espécies.[11][13] A maior parte das espécies anteriormente aceitas foi declarada como sinônimos. As taxonomias de Maas e Tanaka são as mais aceitas atualmente e já foram confirmadas, em parte, por outros pesquisadores.[14]
Cultivares
[editar | editar código-fonte]Já existiram centenas de cultivares de canas: o botanista húngaro Árpäd Mühle publicou, em 1909, o livro Das Geschlecht der Canna, listando mais de quinhetos cultivares, muitos deles estão extintos.
Mais ou menos à mesma época, o botanista estadunidense Liberty Hyde Bailey dividiu os cultivares florescentes em duas espécies de jardim, C. x generalis[15] e C. x orchiodes.[16] A primeira pseudo-espécie englobaria os híbridos Crozy da época, enquanto a segunda englobaria as canas "semelhantes a orquídeas" que foram introduzidas, na Itália, por Carl Ludwig Sprenger e, nos Estados Unidos, por Luther Burbank, no ano de 1894.[7][17] Com o tempo, as pseudo-espécies foram cruzadas entre si, tornando a separação entre as duas, que era baseada no genótipo, bastante vaga.[3] Como o Código Internacional de Nomenclatura de Plantas Cultivadas desincentiva o uso de pseudo-espécies na classificação de plantas, e dada a imprecisão na divisão anterior, as canas são atualmente classificadas em grupos de cultivares. Existem cerca de dez grupos de cultivares de canáceas.
Usos
[editar | editar código-fonte]As plantas dessa família são utilizadas por seres humanos para vários fins.
Plantas ornamentais
[editar | editar código-fonte]As canas são muito apreciadas como plantas ornamentais, sendo muito utilizadas para enfeitar jardins, mesmo em regiões temperadas e subtropicais. Podem também ser plantadas em vasos. Um grande número de cultivares foi desenvolvido para explorar diversas possibilidades de cores, formas e tamanho das flores. Uma grande indústria de jardinagem cresceu à volta da família.
Alimentação
[editar | editar código-fonte]Os rizomas das canáceas são ricos em amido. De fato, essas plantas são uma das fontes de amido mais ricas disponíveis. Esse amido é geralmente utilizado para consumo humano. Também podem se consumir brotos de canas, e as sementes verdes são por vezes utilizadas em tortilhas. As folhas e caules já maduros podem ser usados como alimentação para gado.
Em algumas regiões da Índia, os rizomas são fermentados para produzir uma bebida destilada considerada forte.[18]
Produtos manufaturados
[editar | editar código-fonte]As sementes maduras são rígidas. São utilizadas como miçangas.[19] Além disso, também são utilizadas na confecção dos instrumentos musicais, como o caxixi no Brasil, kayamb (da ilha de Reunião) e hosho (um tipo de chocalho usado no Zimbábue).[20]
As plantas também produzem uma fibra que pode ser utilizada como substituto da juta. É possível fabricar papel a partir das folhas da cana: colhe-se as folhas antes da planta produzir flores, raspa-se as folhas para tirar a camada exterior e deixa-se as folhas de molho por duas horas em água. Após isso, as folhas são cozinhadas por vinte e quatro horas em uma solução alcalina abrasiva e batidas num liquidificador, Após seca, a massa produz um papel leve e marrom. As sementes produzem uma tintura roxa.[21]
Combate a pragas e poluição
[editar | editar código-fonte]A fumaça das folhas queimadas é considerada inseticida.[21] Além disso, o uso de canas é eficaz no combante à poluição de zonas úmidas, pois essas plantas são bastante resistentes à poluição.[22]
Espécies
[editar | editar código-fonte]- Segundo The Plant List, 12 nomes de espécies são aceitos atualmente[23]:
- Canna bangii Kraenzl
- Canna flaccida Salisb.
- Canna glauca L.
- Canna indica L. (syn. C. lutea)
- Canna iridiflora Ruiz & Pav.
- Canna jaegeriana Urban.
- Canna liliiflora Warsc. ex Planch.
- Canna orchiodes L. H. Bailey.
- Canna paniculata Ruiz & Pav.
- Canna pedunculata Sims
- Canna tuerckheimii Kränzl.
- Híbrida - Canna generalis L.H.Bailey (sin. C. × orchiodes)
Classificação do gênero Canna
[editar | editar código-fonte]Sistema | Classificação | Referência |
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Linné | Classe Monandria, ordem Monogynia | Species plantarum (1753) |
Ligações externas
[editar | editar código-fonte](em inglês) Cannaceae em Flora of North America
(em inglês) Cannaceae em Flora of China
(em inglês) Cannaceae em Flora of Pakistan
- (em inglês) Cannaceae em Florabase
(Ver descrição Cannaceae)
- (em inglês) Cannaceae em L. Watson and M.J. Dallwitz (1992 onwards). The families of flowering plants: descriptions, illustrations, identification, and information retrieval. Sur http://delta-intkey.com
- (em inglês) Referência ITIS: Cannaceae
- (em inglês) Referência NCBI:Cannaceae
- (em inglês) Referência GRIN:Cannaceae Juss.
- «APG II» (em inglês), 6º versão (maio/2005).
- Sistema APG IV (2016)
- «Canna News» (em inglês). Blog sobre canas
- «Canna Obsession» (em inglês). Blog sobre canas
Referências
- ↑ Houaiss, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Verbete cana Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 p. 591
- ↑ Conrad, Jim (31 de agosto de 2007). «Canna Flowers» (em inglês). Consultado em 7 de junho de 2008
- ↑ a b c d Cooke, Ian (2001). The Gardener's Guide to Growing Canna. [S.l.]: Timber Press. ISBN 978-0881925135
- ↑ a b c Simpson, M.G. 2010. Plant Systematics. Ed. 2. Elsevier, Amsterdam.
- ↑ a b Simpson, M. G. 2010. Plant Systematics. Ed 2. Elsevier, Amsterdam.
- ↑ Judd W.S., C.S. Campbell, E.A. Kellogg, P.F. Stevens & M.J. Donoghue. 2009. Sistemática vegetal: um enfoque filogenético. Rodrigo B.Singer et al. (Trad.) 3a ed. Armed. Porto Alegre.
- ↑ a b c Triloki Nath Khoshoo; I. Guha (1977). Origin and Evolution of Cultivated Cannas (em inglês). [S.l.]: Vikas Publishing House
- ↑ «Lista de Espécies da Flora do Brasil». floradobrasil.jbrj.gov.br. Consultado em 31 de janeiro de 2017
- ↑ de l'Écluse, Charles (1576). Historie des plantes rares observées en Espagne. [S.l.: s.n.]
- ↑ Pison (1658). Histoire naturelle du Brésil. [S.l.: s.n.]
- ↑ a b Tanaka, Nobuyuki (2001). Taxonomic revision of the family Cannaceae in the New World and Asia. Makinoa ser. 2,. 1. [S.l.: s.n.] pp. 34–43
- ↑ Percy-Lancaster, Sydney (1927). An Indian Garden. [S.l.: s.n.]
- ↑ Paul Maas e Hiltje Maas (1988). Cannaceae. [S.l.: s.n.]
- ↑ Prince,, Linda; W. John Kress (16 de agosto de 2001). «Species boundaries in Canna (Cannaceae): evidence from nuclear ITS DNA sequence data». Botany. Botany 2001 (em inglês). Albuquerque, Novo México, Estados Unidos: Smithsonian Institution National Museum of Natural History. Consultado em 20 de setembro de 2008
- ↑ Bailey, L.H. - Canna x generalis. Hortus, 118 (1930); cf. Standley & Steyerm. in Fieldiana, Bot., xxiv. III.204 (1952)
- ↑ Bailey, L.H. - Canna x orchiodes. Gentes Herb. (Ithaca), 1 (3): 120 (1923)
- ↑ Malcolm Dalebö. «Comparison of Crozy & Italian Group cultivars» (em inglês). Consultado em 23 de outubro de 2008
- ↑ Ganesh Mani Pradhan & Son. «Canna edulis» (em inglês). Consultado em 16 de agosto de 2008
- ↑ «About the Jewelry» (em inglês). Consultado em 16 de agosto de 2008
- ↑ Novitski, Paul (2000). «Hosho». Dandemutande Magazine (em inglês). Consultado em 16 de agosto de 2008
- ↑ a b «Canna indica - Plants for A Future database report» (em inglês). Consultado em 16 de agosto de 2008
- ↑ Ayaz, Selma; Akçab, Lütfi (2001). «Treatment of wastewater by natural systems». Elsevier Science Ltd. Environment International (em inglês). 26 (3): 189-195. doi:10.1016/S0160-4120(00)00099-4. Consultado em 16 de agosto de 2008
- ↑ «Cannaceae — The Plant List». www.theplantlist.org (em inglês). Consultado em 31 de janeiro de 2017